A rica língua portuguesa conhece várias formas de nos vermos livres de situações inoportunas. «Vão pentear macacos», «vão-se catar», «vão lamber sabão», «vão ver se chove», enfim, um ror de autêntico baile mandado verbal, em que o verbo «ir» rompe, imperativo, isto para excluir o soez «vão àquela parte».
Surgiu agora o inesperado de uma forma repontona: «vão à vossa vida, que eu vou à minha».
Ora infelizmente tudo isto é equívoco. Em vez do presente do indicativo, «vão», a gramática ensina que, a ser o imperativo, tem de ser o já quase arcaico: «ide à vossa vida, que eu eu vou à minha».
Pobre do verbo «ir», que já merece dos gramáticos o epíteto deprimente de verbo anómalo, porque, tal como o verbo «ser» é dos que que apresentam mais de um radical quando são conjugados. Ora vejam: vou, ia, fui, fora, vais, íeis, um sei lá quantas formas em que nem parece que se trata do mesmo «ir».
Uma coisa ficou clara, finalmente: é que «à vossa vida» e «eu à minha» mostra que de vidas diferentes, afinal, se trata! Custou, mas foi! Já chega de confusões.