Em matéria do que se chamou "Acordo Ortográfico", sou contra. Absolutamente contra. Nem morto de morte matada ou morrida.



23/11/08

Os preciosos filhos

Estive a ler esta manhã a introdução que Pedro Barreiros escreveu às Elegias Chinesas de Camilo Pessanha e a homenagem que ali presta a quantos, como António Quadros, souberam ver na escrita do autor da Clepsidra tudo o que não enxergam «os hermeneutas do óbvio».
Texto a escorrer-se sobre a língua e absorto pelo saber, póstumo e justificativo, se Pessanha dominava ou não a linguagem «dos Celestes», no dizer admirável de António Osório de Castro, há nele a passagem em que alude à «doce papiaçan macaísta», esse forma frutífera de dizer que os trópicos modelaram e naquelas remotas paragens do sol nascente se amancebou com «a música ebúrnea do baralhar das peças de ma jong».
Mas há, a acompanhar-me como um bater amigável de mão familiar nas costas, a animar este dia em que o sol sorri, a referência às boas maneiras que obrigam quem fala a referir-se si próprio com «expressões humildes e depreciativas», enquanto «a pessoa do interlocutor deveria ser tratada com os mais pomposos epitetos».
O exemplo, esclarecedor porque eloquente, é a forma risonha de aprender, que torna o mestre o amigo. Assim «quantos preciosos filhos tem», receberia a resposta «cinco estúpidos porquinhos».