Já o tinha comprado faz tempo e havia começado a ler; mas pusera-o de lado por embirração pura, por me cheirar a espólio refoicilado, um cheiro a interminável arca de infindáveis inéditos, como surgem agora nas mãos de rapaces herdeiros e de ansiosos editores.
Esta noite fui buscá-lo à pequena Babel que se acumula ao pé da cama, a pilha dos que hei-de ler, os livros que se arrumasse sentia estar a condená-los ao cemitério da estante. Falava do Teixeira de Pascoaes, que conhecera em Amarante «a bengalinha adiantando-se e abrindo caminho à bicada». Uma pessoa lê isto, e assim foi escrito pelo Alexandre O'Neill e sente o pica-pau ferindo o chão duro do caminho, e atrás «o meu poeta murmurava coisas, possivelmente pedras, fragas, restos do Marão por digerir».
Como se escreve maravilhosamente na língua portuguesa, tanto que um leitor sente-se ali mesmo, no lajedo e no empedrado, o andarilho, descarnado viandante, «um rosto de pedra atormentada», onomatopaicamente presente.
Não sei se esta noite conseguirei ler mais, mas mais não é preciso. Morreu o Dr. Joaquim. Faz tempo.