Reconheço que temos uma língua de estalo, o que às vezes faz com que dê vontade de andar à estalada! No último post que escrevi sobre um poema do Tomaz de Figueiredo disse que ele o «dedicou» ao presidente do Conselho do regime anterior, Marcelo José das Neves Alves Caetano.
Ora logo uma minha antiga leitora, anti-fascista de gema, concluiu que se o dito dedicava o quer que fosse ao mencionado Caetano é porque era um «fascista», e logo um outro, recém-chegado aos meus textos, viu em «um ou dois» posts meus, que entretanto terá lido, um «discurso do "Reviralho"».
Nem mais nem ontem, como diria o outro.
É este o perigo de dois tiques comportamentais que se tornam hábitos: leitura apressada, interpretação literal, julgamento sumário.
Claro que lendo o poema vê-se que o dito Figueiredo ridiculariza até ao vómito, num estilo brejeiro e numa linguagem soez, aquele que sucedeu a Oliveira Salazar no Governo de Portugal, e que portanto pode ter todos os pecados e virtudes mas não o ser um fascista; e claro que lendo o muito que eu escrevi em vários dos meus blogs se nota que muita vez há precisamente nessa escrita o contrário desse reviralhismo de dicurso.
Não importa. Não há tempo! Escreveu, morreu!
Movidos pela rapidez tornamo-nos todos juízes do antigo Tribunal de Polícia, mestres na Justiça expedita! «Você falou em Tomás a dedicar não sei o quê ao Caetano? Fascista! O quê? Nega? Mentiroso! Atrevido! Olhe que eu não me deixo enganar, ouviu? E não se brinca na Polícia, perdão, na Justiça! Ou julga que não topámos que esse Tomás é o Américo de Deus Rodrigues Tomás?, ou Thomaz, tanto faz».
P. S. Dedicar não quer dizer escrever uma dedicatória. Acho eu, em minha defesa, senhores juízes.